Por que necessitamos de espetáculos macabros?

quinta-feira, 6 de novembro de 2008 | comentários: 0

Não é preciso escrever sobre o que aconteceu em Santo André, estado de São Paulo. Quem não sabe o nome das meninas e do rapaz que as seqüestrou? Mais uma vez a mídia brasileira exagera na cobertura de um crime que não tem nada de tão catastrófico. Seqüestros, assassinatos, mortes, chacinas acontecem diariamente e em doses cavalares em nosso país. São desconhecidos atirando em desconhecidos por cinco reais, maridos matando mulheres, pais matando filhos, e, vice-versa.
Talvez poderíamos justificar tal cobertura por parte dos veículos de comunicação se considerássemos a atuação, por muitos errônea, da polícia no caso. Mas, se pararmos para refletir, policiais, que são os responsáveis pela proteção da sociedade contra a violência urbana, erram também diariamente. E não são apenas problemas de planejamento de ações. São propinas, chacinas, tráfico de influência, tudo o que nos leva à falência constante e gradativa.
Então, porque a atenção da população se fixou na frente da TV e elevou a audiência dos canais que andavam em baixa? A única razão que consigo pensar no momento e que explique o fato é que o ser humano, principalmente o povo brasileiro acostumado às novelas, não consegue desviar a atenção de assuntos que simulam o mundo que o cerca. Quem não teve uma história de amor na adolescência que parecia ser para sempre?
A habilidade do seqüestrador, a idade das meninas e a falta de jeito com que os policiais trataram o caso fizeram mais um cárcere privado, dos mais de 40 só em 2008 no estado de São Paulo, tornar-se uma novela completa, com vilão, vítimas, o mocinho atrapalhado e uma audiência de fazer qualquer Manoel Carlos invejar.
Não serei insensível de afirmar que o caso foi banal, nem de culpar as redes de televisão pela cobertura exagerada, afinal, elas vivem de audiência. O único provocador da situação, não culpado, somos nós, um povo brasileiro sentimental, que se apega fácil às pessoas, aos personagens e às situações tristes que acometem nossa sociedade. O calor humano de nosso país provoca fenômenos midiáticos como o de Eloá e da menina Isabela Nardoni.
A prova disso é as mais de 30 mil pessoas no velório de uma menina que, há uma semana atrás, era apenas mais uma moradora da grande São Paulo como outras 13 milhões.Então, penso: a mídia erra? O povo brasileiro está enganado ao dar tanta importância a um caso enquanto outras pessoas passam por situações piores?
Não. É apenas uma questão cultural. Enquanto formos brasileiros, levaremos como nossa, a dor de nossos semelhantes.